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Crise: funcionalismo promete paralisar se for escolhido como variável de ajuste

Mantega pede a senadores que impeçam aumento salarial concedido pelo Governo ao funcionalismo

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez ontem um apelo aos senadores para que vetem qualquer tentativa de aumento aos servidores públicos e de despesas da Previdência Social. Ao ser indagado pelo senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), durante depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, sobre os constantes reajustes dados ao funcionalismo, Mantega foi enfático: “Conto com os senhores para que não aprovem mais nenhum aumento de gastos com os servidores e com a previdência”, disse. O Governo tem duas medidas provisórias em tramitação no Congresso, uma corrigindo os salários de mais de 350 mil servidores, outra, criando 2 mil cargos na Polícia Federal.

Segundo Mantega, até agora, o Governo tem conseguido manter os gastos com o funcionalismo dentro da normalidade. “Mas estamos em tempos de crise, que não permite nenhuma elevação nas despesas do Governo”, afirmou. Ele ressaltou que as despesas com folha dos servidores corresponde atualmente a 4,6% do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas pelo país.

Esse patamar de gastos, assegurou, está abaixo do registrado nos Governos anteriores. “Estamos mantendo as despesas com pessoal e com a Previdência sob controle. Os nossos gastos hoje são perfeitamente administráveis. Por isso, não podemos aumentá-los”, reforçou.

Fator previdenciário

O ministro disse, ainda, que está muito preocupado com o projeto apresentado pelo senador Paulo Paim (PT/RS), que derruba o fator previdenciário, uma tabela que promove descontos nas aposentadorias e pensões pagas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O projeto está para se votado na Câmara dos Deputados e, se aprovado, promoverá um rombo inesperado nos cofres da Previdência.

O fator previdenciário foi instituído durante o Governo Fernando Henrique Cardoso como forma de conter o crescimento do déficit do INSS. “Quero ressaltar a minha preocupação com uma possível aprovação do fator previdenciário”, assinalou Mantega.

Durante a exposição do ministro, o senador Arthur Virgílio lhe perguntou se ele já havia pedido aos parlamentares do Governo, o PT, para vetar reajuste ao funcionalismo e a aposentados e pensionistas. “Eu estou pedindo a todos”, garantiu. Na semana passada, durante depoimento na Câmara, Mantega já havia mostrado seu desconforto com os reajustes a servidores.

Ao falar sobre o tema, disse ser contra os aumentos, mas ressaltou que não tinha poderes para vetar muitos dos reajustes, porque as decisões estavam centralizadas no Ministério do Planejamento, comandado por Paulo Bernardo.

Orçamento 2009

Sobre a possibilidade de o Governo rever a proposta de Orçamento de 2009, que contempla muitos concursos públicos e reajustes linear as servidores, Mantega destacou que o Governo está esperando um cenário mais claro dos efeitos da crise financeira mundial sobre a economia brasileira para agir. “Sabemos que haverá uma desaceleração da atividade econômica no ano que vem e que a arrecadação também crescerá menos. Mas não queremos tomar decisões sem ter um quadro mais definido da economia”, afirmou. Pela proposta enviada ao Congresso, o Governo levava em consideração um crescimento de 4,5% da economia em 2009. Com o estrago da crise, no entanto, há analistas falando em expansão de apenas 2%.

Reação

A declaração do ministro da Fazenda, Guido Mantega, aos senadores não foi bem recebida pelos servidores federais. Com duas medidas provisórias tramitando no Senado, a categoria é unânime em afirmar que, se os acordos de reajustes salariais forem descumpridos, haverá paralisação.

“Se o Governo mexer nos aumentos, a reação será imediata. Vamos colocar o bloco na rua. Será a maior greve que esse país já viu”, afirmou categórico Sérgio Ronaldo, diretor executivo da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), entidade que representa cerca de 800 mil servidores. “Eles [o Governo] têm que parar de salvar especuladores e cumprir com os acordos firmados”, completou Ronaldo.

Para a União Nacional dos Advogados Públicos Federais do Brasil (Unafe), caso o Senado acate o pedido de Mantega, irá instaurar um descontentamento generalizado entre os funcionários da Advocaci-Geral da União (AGU). “Queremos acreditar que o Senado tenha consciência de seu papel e ignore a má sugestão do ministro”, comentou Júlio César, diretor da entidade.

O Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil considerou uma gafe a afirmação do ministro da Fazenda. “É um tiro no pé, ou melhor, na cabeça. Os agentes responsáveis pela fiscalização parando, o prejuízo com a arrecadação será maior do que manter os aumentos”, analisou Pedro Delarue.

Delarue também comentou as declarações dadas pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, na semana passada, quando afirmou ser possível rever o cronograma de repasse dos aumentos do funcionalismo — previsto para terminar em 2011. “Não acredito que nem Paulo Bernardo nem Mantega tenham tendências suicidas”, ironizou. “Se a lei for descumprida, a greve é uma certeza”, concluiu o presidente da Unafisco.

As MPs 440 e 441 aguardam votação no Senado, mas as resoluções passaram a valer quando foram publicadas no Diário Oficial da União, em agosto. Assim, o que estava previsto de aumento para mais de 350 mil funcionários públicos federais passa a valer. A pendência são os três meses reajustados retroativos às MPs — que são esperados para o início de novembro — e ajustes que podem ser feitos por emendas.

Fonte: Correio Braziliense, de 31/10/2008